A vida como ela é!
Chegando em casa no fim da manhã, vi que havia um grupo de trabalhadores sobre à sombra de uma árvore ao lado do portão. Desci do carro para abrir o portão, nisso, me veio a idéia de trocar umas palavras com os que ali estavam. Trabalhadores fardados, vestiam uma farda amarela.
Mi dirigi a eles, perguntando, o que vocês têm aí de bom? Eles surpreendidos comigo e minha pergunta, disseram, a foto de um amigo nosso que morreu. Me entregaram a foto!
Olhei a foto, ali num caixão um homem morto com a mesma farda dos vivos e com uma bandeira, onde se lia uma frase, a mesma que estava escrita na camisa dos vivos e provavelmente na camisa dele mesmo, morta com ele.
Logo entendi que aquele era um momento de luto. Homens tristes, já são tristes por si só, pela marca do tempo, desgastado pelo sofrimento de ser pobre. Mãos calejadas, rostos queimados pelo sol. Alguns tinham a roupa rasgada.
Eram seis. E enquanto conversavam sobre a morte do amigo, faziam girar uma garrafa de cachaça. Era a única amiga capaz de afogar a dor da perda de alguém que se vai. Mais a preocupação maior era com a viúva do amigo, deixou cinco filhos e o mais novo, tem pouco mais de um mês. Como ficaria a mulher do amigo? A criança precisando de leite.
Faziam perguntas querendo saber do direito dela... E eu... ficava curtindo a minha impotência de nada saber, de não poder fazer nada... e pensando, mais gente com fome nesse mundo. A expressão do rosto deles era de espera, esperam algo que eu não sabia e nem podia dar a eles. Ficou um clima de tristeza dos dois lados.
Para o que morreu, a morte veio como tábua de salvação de um mundo marcado pela desgraça de receber ao fim do mês um salário de 300 reais e ter de sustentar uma casa com sete bocas e tudo que isso compreende. A morte como alegria do que vai e como tristeza dos que fiicam. Encobrindo marcas, levando sonhos. Deixando a vida mais amarga.
Uma dose! a única capaz de espantar esse sentimento.