Coaripolis

sábado, outubro 23, 2004

Manaus, a nossa capital

335 anos da Manaus de vida cabocla, título da reportagem sobre Manaus no Jornal do Comércio. Não vejo nada de vida cabocla em Manaus, muito pelo contrário, durante toda sua história, a elite local, o que mais fez foi tentar matar a cultura cabocla, importando culturas e fora. Hoje, quando alguém de identifica como caboclo é tratado como cidadão de segunda categoria.
Pela Passagem do aniversário da cidade no ano passado o sociólogo Carlos Santigo nos presentiou e também a Manaus, um excelente texto, para fazer pensar os manauaras e todos nós amazonenses.
Uma cidade – Dois destinos
Que Manaus é essa que completa 334 anos? Que mudanças marcaram a sociedade e a cultura da capital do maior Estado em extensão territorial do Brasil, nos últimos 20 anos? A resposta está na boca dos seus próprios moradores, entre eles o sociólogo Carlos Santiago, 37, cuja avaliação é de que a cidade está muito mais conflituosa que a Manaus dos anos 80 e 90. Segundo ele, nos últimos anos, principalmente nas duas últimas décadas a cidade passou por verdadeiro surto de ampliação da pobreza, da desigualdade social e concentração de renda nas mãos de poucos.
“ Agora está muito mais claro o conflito entre bairros periféricos x bairros nobres. Está mais visível a desigualdade social e percebemos que existem bairros, prédios e zonas extremamente atendidos por infra-estrutura como Vieiralves e Ponta Negra, enquanto outros pontos estão esquecidos, caso de bairros na zona Norte e zona Leste”, explica.
Santiago frisa que existem duas Manaus, uma delas muito moderna com direito ao acesso a serviços públicos, ou seja, uma cidade que tem um poder aquisitivo fantástico a ponto de comprar apartamentos no valor de R$ 1 milhão na Ponta Negra e Adrianópolis. A outra Manaus, é a cidade que tem uma imensa população de pessoas que vivem em condições primárias da existência humana, isto é, apenas lutam para sobreviver.
O sociólogo acrescenta que Manaus é uma cidade que se contradiz porque se coloca hoje como detentora de um Pólo Industrial extremamente sofisticado e moderno, com empresas que são conhecidas no mundo por seus produtos e suas marcas. “Ao mesmo tempo milhares de trabalhadores do Distrito Industrial vivem em situação salarial muito precária e as reivindicações e críticas de exploração têm se tornado prática corriqueira”, analisa.
Santiago estima que por conta da falta de empregos, os salários reduziram muito, assim como o crescimento populacional da cidade fez com que Manaus oferecesse uma mão-de-obra formada por milhares de trabalhadores ao Distrito Industrial. “A quantidade de pessoas procurando emprego, acabou influenciando no valor dos salários pagos”.
O especialista reforça que a mesma cidade moderna que tem produtos absorvidos e vendidos em todo o globo, mantém ainda uma relação de trabalho bastante atrasada e baseada em modelos antigos. “Podemos afirmar isso não apenas pelos baixos salários, mas também pela relação dos empregados com a indústria, uma vez que não existe participação dos funcionários nos lucros, nem no planejamento das empresas”, argumenta.
Na opinião de Santiago, até mesmo o processo de luta em defesa da Zona Franca de Manaus não inclui a participação dos funcionários do Distrito Industrial. “Percebemos nessa luta as vozes dos setores empresariais e governamentais, mas a voz dos trabalhadores não é levada em consideração”, critica.
Santiago salienta que Manaus também se mostra com uma cidade de desilusão, onde pessoas acreditavam que encontrariam a solução para a falta de emprego e conseguiriam “vencer na vida”, porém acabaram sendo enganadas pela falsa propaganda de um “Eldorado amazônico”. “Hoje até mesmo a cultura da cidade mudou. Manaus está muito violenta e já não há quem consiga dormir tranqüilo de portas abertas ou saia sozinho de madrugada pelas ruas sem nenhum temor”, conclui.
In Amazonas em Tempo, 24. 10. 2003. Manaus. www.emtempo.com.br
SANTIAGO, CARLOS, (37 – sociólogo)