Coaripolis

quinta-feira, março 30, 2006

Empresas cobram o dobro do valor de mercado e emperram construção do duto Coari-Manaus
Atraso no gasoduto eleva a conta de luz de todo o Brasil
Na capital amazonense, temperaturas acima dos 30 graus são rotineiras, e a umidade do ar chega facilmente aos 90%. O lugar é tão quente e abafado que alguns hotéis pedem aos hóspedes que mantenham ligado o ar-condicionado se abrirem a janela do quarto, “para não danificar os móveis e aparelhos elétricos”. Os condicionadores de ar estão por todo lugar, inclusive na maioria dos ônibus do transporte coletivo.
Com 1,6 milhão de habitantes, Manaus ainda possui um parque industrial razoável, atraído pela criação da Zona Franca, nos anos 60. O resultado de tamanho consumo é que não são raras as quedas de energia na cidade, que não é atendida por hidrelétricas. Toda a energia elétrica consumida vem de dezenas de usinas termelétricas movidas a óleo combustível.
Se não fosse pela Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), os manauaras pagariam a conta de luz mais cara do Brasil – graças à CCC, pagam o equivalente a 25% do custo real. Criada em 1973 para subsidiar a geração de energia em regiões isoladas, a CCC é rateada por todos os consumidores de energia elétrica do país. O valor estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para este ano é R$ 4,5 bilhões, 25% a mais que os R$ 3,6 bilhões de 2005.
Boa parte desse dinheiro seria economizada com a construção do gasoduto Coari-Manaus, que transportaria a reserva gigante de gás natural de Urucu – 18% do total do país – e reduziria a conta de luz a níveis “normais”, dispensando o subsídio. Como 44% da CCC vai para Manaus, pode-se dizer que a cada mês de atraso no gasoduto os brasileiros gastam R$ 165 milhões.
A construção do gasoduto esbarra em obstáculos há anos. O primeiro foi político: o governador anterior, Amazonino Mendes, preferia que o gás fosse transportado por barcaças, operação mais cara. Com a nova gestão, a idéia foi deixada de lado e teve início o processo de licitação do gasoduto. Já foram lançados três editais diferentes, mas em todos as empreiteiras candidatas cobraram mais que o dobro do valor de mercado – e isso com a Petrobrás reduzindo ao máximo os custos. Uma das providências foi contratar o Exército para abrir caminho na mata.
“Isso acontece em toda obra na Amazônia. As empresas sabem que é importante e cobram mais”, reclama Giovanni Paiva, gerente da Transpetro na região Norte. Para alguns trechos, diz Paiva, as empresas exigem US$ 83 por metro polegada, sendo que o normal é entre US$ 35 e US$ 38. O primeiro prazo para a conclusão da obra era dezembro deste ano, mas ela não deve ficar pronta antes do fim de 2007.