Coaripolis

quinta-feira, junho 15, 2006

As telas de um Wanano
Depois de um ano da estréia como artista plástico, o pintor Wanano Dhiani Pa'saro, 31, volta a mostrar seu talento na 1ª Mostra Individual de Artes Plásticas da Cultura Indígena, no Tropical Hotel Manaus. Em 40 quadros de acrílico sobre tela ele revela o imaginário de seu povo, que reside na região do Alto Rio Negro.
Utensílios domésticos, brinquedos, máscaras de rituais, adornos e pinturas usadas em malocas ganham as telas. Num misto de contemporaneidade e primitivo, as obras vão do colorido - pautado no vermelho urucum - à sobriedade do marrom.
As imagens são resultado de uma pesquisa minuciosa, realizada por Dhiani e outros pintores índios, durante os estudos no Instituto de Arte e Cultura Amazônicas Dirson Costa (IDC). Os primeiros traços ele deu a partir das aulas gratuitas que recebeu na escola do IDC. De tudo que viu, foi a origem de seu próprio povo que mais lhe chamou a atenção.
Sucesso
O retrato da etnia Wanano por um pintor wanano é que está fazendo da exposição um sucesso. Em quatro dias de mostra, completadas ontem, seis das 40 telas já tinha sido comercializadas. Cada uma custa R$ 4,2 mil.
O artista
Dhiani Pa'saro, aliás, é um capítulo à parte. De calça jeans, tênis e camiseta, ele foge (ainda bem!) ao estereótipo do índio folclorizado. Tudo isso, um fator a seu favor, já que estar presente na mostra e não se apresentar como "brinde exótico" é um diferencial e tanto.
"Vim para Manaus para estudar Odontologia, mas não passei no vestibular. Aprendi a pintar e agora quero seguir essa carreira. Isso está ajudando a sustentar minha família, porque eu e minha mulher estávamos desempregados, com dois filhos para criar."
Há seis anos em Manaus, Dhiani é o primeiro índio a fazer uma mostra individual. E comprova - com o sucesso de seu trabalho - que a arte, se focada na valorização da cultura de um povo, pode servir como sobrevivência de seus descendentes.