Coaripolis

terça-feira, novembro 16, 2004

Um viajante em Coari

Estou lendo o livro Viagem pelo Rio Amazonas de Paul Marcoy. O livro é um relato muito interessante da sua aventura pelo nosso rio por onde ele viajou saindo do peru em julho de 1846 e chegando à Belém em agosto de 1857.
Assim ele relata Coari quando passou pela cidade:
“A primeira coisa que se observa ao entrar no Coari é um pequeno povoado de seis casas cobertas de palha no topo de uma elevação. O lugar chama-se Tahua-Mirim. Esse povoado da margem esquerda de quem adentra o lago é somente um posto avançado sem importância. A cidade ou lugar principal, assinalado nos mapas brasileiros com a Vila de Coari, fica quatro léguas adiante na mesma margem.
Chegamos a ela pelas seis da tarde, quando estava sendo celebrado um casamento de um soldado com uma mulher Tapuia. As autoridades civis, militares e eclesiásticas do lugar haviam-se unido à população nativa para conferir maior pompa e circunstância ao evento. A cachaça, que corria livremente desde a manhã, havia enrubescido as faces e elevado acima do normal o tom das guitarras.
Fiquei chocado com a feiúra e a melancolia do lugar. Imagine-se, na margem de um amplo lençol de água, preta como tinta de escrever, imóvel e densa, um pedaço de terra coberto de capim rasteiro e amarelado; sobre esse chão, onze casas cobertas com folhas de palmeira num espaço de cento e cinqüenta metros e, algo recuada, uma igreja que mais parecia um miserável celeiro com o reboco caído e o telhado afundado em vários pontos.
Acrescente-se a isso, a título de animação, cinco ou seis vacas magras andando de porta em porta, como a pedir aos seus donos um pasto melhor do que o capim amarelo, e ter-se-á um quadro preciso da capital de Coari”.