Coaripolis

sábado, junho 17, 2006


Um sagrado intercâmbio entre a Índia e os índios
Duas expressões milenares e um só significado, de boas vindas. "Atiatiman" e "Namasté" são duas palavras das línguas tucano e indiana que foram trocadas, pela primeira vez, por um grupo indígena e a dançarina. Uma Sharma, de Nova Déli, na Índia, que tiveram um encontro inédito, cheio de magia, encanto, tradição, dança e música. Uma, que em seu país é conhecida como a Rainha do Kathak, é referência no mundo por suas expressões corporais, faciais e timbre de voz, sem igual para executar a dança clássica que existe há mais de 2 mil anos.
E para promover um sagrado intercâmbio entre os povos, a dançarina fez questão de conhecer os índios do Alto Rio Negro, visitando o Núcleo Cultural Indígena Dessana-Tucano, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, a quase uma hora de barco de Manaus. Mas o que era um encontro de culturas milenares acabou se transformando numa bela confraternização, entre os povos, com uma grande dança indígena-indiana. Para Uma foi uma experiência incrível e extraordinária, sem precedentes.
Para o pajé dessana Toalaman (Domingos Sávio Velozo Vaz) o encontro foi enriquecedor, apresentando a Índia para os membros das tribos reunidas e comunidade. Enquanto na sociedade indígena os homens têm papel principal no dançar, sendo as mulheres mais acompanhantes, no Kathak são elas que reinam, apresentando-se para a corte, imperadores e reis. Totalmente diferentes, as danças têm um ponto forte em comum, a busca espiritual, pela paz e harmonia do corpo e da alma.
"O Kathak mostra a coragem da mulher e suas várias interpretações", diz a indiana, que em São Paulo apresentou sua arte para um balé de cegos e uma ONG. Após a visita a Manaus, motivo de sua viagem ao Brasil, Uma fará oficinas de dança clássica na capital paulista, de 20 a 26. Na chegada, Uma Sharma foi recepcionada no núcleo por homens e mulheres, vestidos à caráter para as danças e rituais de boas vindas, com os corpos pintados, cocares, colares, flores e adornos.
Para a indiana o grupo fez quatro apresentações, das danças do cariço, japurutu, capiuaia e maracá, instrumentos de sopro e percussão. Enquanto dançavam, homens e mulheres bebiam o caxiri (bebida indígena extraída da mandioca fermentada), tendo ao centro a dançarina, em estágio de contemplação, alternando movimentos de mãos, cabeça e pés entre sutis e vibrantes. Segundo o pajé Toalaman, o grupo do Alto Rio Negro, do Distrito de Pari-Cachoeira, em São Gabriel da Cachoeira, procura manter no centro a cultura e os símbolos das etnias, vivendo da caça, pesca e das plantações.