"Pintação"
Desde que cheguei em coari, lá se vai um ano passando; tenho tentando fazer algo de social por este mundo. Tentei com os jovens, ao menos alguns jovens que tenho contatos, nada. Os jovens que tenho contato reclamavam sempre a falta de uma biblioteca, coloquei os livros que tenho e fiz assinaturas de revistas, tudo a disposição deles, nada.
Desde que cheguei em coari, lá se vai um ano passando; tenho tentando fazer algo de social por este mundo. Tentei com os jovens, ao menos alguns jovens que tenho contatos, nada. Os jovens que tenho contato reclamavam sempre a falta de uma biblioteca, coloquei os livros que tenho e fiz assinaturas de revistas, tudo a disposição deles, nada.
Vi que as crianças da vizinhança, que não são poucas, começaram a se aproximar. Esse ano comprei umas caixas de lápis de cera e umas caixas de massa de modelar e pronto, foi o que elas quiseram. Todos os dias vinham e perguntavam sobre a "pintação". O projeto nascia, ainda está nascendo. Também consegui com minhas economias montar uma pequena gibiteca.
Numa da minhas viagens para Manaus, em fevereiro, vinha voltando de Manacapuru, comprei um datashow, que uso como projetor de filmes, começando assim as sessões de filmes. Toda quarta um filme. Difícil é encontrar filmes para idades tão diversificadas. Sem contar que o tempo é curto, o filme começa sempre às sete da noite, na maioria das vezes é só a projeção por ela mesma, não dar tempo da gente conversar.
Tenho percebido que os filmes para as crianças, tem a mesma duração dos que fazem para adultos. Se começamos sete, dificilmente sobrará tempo para uma conversa sobre o tema abordado. O certo é que toda quarta elas estão aqui.
Nessa semana, a semana assim dita: "Semana da Criança", ampliei o projeto e começamos um trabalho das 08h00 às 09h30 e das 16h00 às 17h30, agora com uma pessoa acompanhando. A proposta é criar um espaço onde elas possam aprender brincando, cantando, pintando, assistidno filmes.
Diferente da escola formal, não temos salas de aulas refrigeradas (nem ventiladores), nem exigimos fardas, nem temos chamadas ou qualquer outra exigência formal. Quem quiser vir, venha. E se elas estão vindo há quase oito meses é sinal que a coisa está interessante, ser humano não gosta de coisa chata.
Repasso um pedaço de texto da Revista Mundo Jovem: "As crianças pobres são as principais vítimas da injustiça estrutural que se abate sobre todo o continente latino-americano, cujas taxas de pobreza foram agravadas pela escandalosa acumulação de renda, nos últimos dez anos. No Brasil, houve muitos e importantes avanços para evitar que dezenas de milhares de crianças moressem antes de completar o primeiro ano de vida. Segundo a representante do Unicef no país, Marie-Pierre Poirier, as ações básicas de saúde conseguiram reduzir a taxa de mortalidade infantil de 43 por mil, em 1990, para 27,5 por mil, em 2004.
Os dados da violência assustam. Para as crianças menores surge como abuso sexual. Segundo a Associação Brasileira de Proteção à Infância, 49% dos casos de abuso sexual vitimam meninos e meninas de dois a cinco anos de idade e 75% das crianças menores de dez anos agredidas sofreram a violência dentro de seus lares.
É preciso reservar espaços para abrigar a invenção e apostar na criação artística da criança." É justamente o que ando atrás!
Hoje, fizemos uma programação, tentando brincar com as crianças, jogos educativos e envolvê-lo no seu dia, tendo como principal objetivo o valor da crianças, o princípio usado foi o da acolhida, do respeito e do carinho para com elas. Elas sabiam que aqui não haveria presentes, apesar disso, vieram.
Na conversa com várias pessoas tenho levantado a seguinte questão: como tocar um trabalho nas perspectiva de movimento social, pensando num tabralho político, mas, sem política partidária. Batalhar por uma sociedade organizada em várias modalidades. O governo nas suas esferas: municipais, estaduais e federal, não é de modo algum o único responsável pela bem das pessoas de um país. Vejo que muitas pessoas que só esperando pelos nossos administradores se decepcionam e dizem que já perderam a esperança. Eu ao ver o brilho do sorriso de uma criança, digo que vale tentar, lutar. Aqui não se trata de tomar o poder, de chegar ao poder para mudar. Muitos fizeram isso e foram ou são piores do que os que eles criticavam.
O que conta para mudarmos é acreditar na vida e por ela lutar.
Obs.: visto minha timidez levei quase oito meses para postar qualquer coisa sobre o projeto social. Aceito idéias ou outras doações.