Coaripolis

terça-feira, dezembro 07, 2004

Operação Cavalo de Tróia II

Desde os anos sessenta foram realizados na Amazônia grandes projetos de mineração, de energia e de industrialização. Isso foi complementado com a construção das rodovias transamazônica,com as quais também foram iniciados grandes projetos de colonização. Nas últimas décadas, estes projetos foram apoiados através de generosos créditos de instituições financeiros internacionais.
Nenhum destes projetos faraônicos contribuiu para a solução de problemas sociais, mas eles foram, ao contrário, a causa de novas constelações de conflitos e problemas agudos. Geralmente os grupos populacionais tradicionais amazônicos tiveram que suportar os custos destes grandes projetos.
Além disto, estes grandes projetos causaram, diretamente ou como efeitos posteriores, a degradação do ecossistema da floresta tropical. Os grandes projetos podem ser descritos, por isto, tanto do ponto de vista social como do ecológico, como projetos econômicos insustentáveis.
Os grandes projetos são uma expressão concreta das teorias desenvolvimentistas e, em medidas crescentes, das teorias econômicas do neoliberalismo, as quais se orientam no modelo ocidental de produção e consumo. O neoliberalismo dominante exige uma ampla liberalização do mercado mundial. Traduzido para a política econômica real e para projetos concretos, isto significa que a Amazônia foi degradada a ser fornecedora da matéria prima e, pela instalação de indústria de consumo intensivo de energia, a ser fornecedora de energia barata.
As decisões pelos grandes projetos energéticos são as decisões com significado estratégico na Amazônia. O projeto do gás natural do Urucu fortalecerá os centros de Manaus e de Porto Velho e as indústrias voltadas para a exportação. Em contrapartida, as pequenas cidades e a economia sustentável dos ribeirinhos serão simultaneamente enfraquecidos.
O projeto de petróleo e de gás natural do Urucu apresenta especificidades regionais, mas não se diferencia fundamentalmente de outros grandes projetos na Amazônia. O grande projeto do Urucu também não solucionou nenhum problema social e econômico da região atingida, mas sim foi a causa de novos campos problemáticos sociais em massa, da desestabilização de economias sustentáveis e da degradação de longo prazo do ecossistema tropical.
Coari confrontou-se sem preparo algum com o grande projeto Urucu. A cidade cresceu incontrolavelmente. A estrutura populacional alterou-se em curtíssimo tempo. A cidade vivenciou o aumento da criminalidade e do tráfico de drogas. Ao invés do número de desempregados diminuir, pelo menos durante o período de obras, ele cresceu devido à migração incontrolada. A prostituição e a prostituição infantil cresceram claramente, e com elas alastraram-se as doenças sexualmente transmissíveis.