Coaripolis

sexta-feira, outubro 21, 2005

No Reino das formigas
Formigas invadem cidade de Eirunepé
O município de Eirunepé (a 1.245 quilômetros de Manaus) vive uma situação atípica. Ao mesmo tempo em que sofre com os efeitos da vazante, que não permite a chegada de insumos importantes para o funcionamento da cidade, está sendo invadido aos poucos por formigas de fogo ou lava-pés (Solenopsis Saevissima), uma espécie carnívora que está tomando conta da cidade, para desespero da população. "A partir do início das cheias dos rios, as formigas vão começar a infestar ainda mais toda a cidade", afirma o prefeito do município, Dissica Valério Tomaz.
Segundo ele, há cerca de dez anos, a espécie começou a surgir em Eirunepé, provavelmente vinda de Envira, município distante cerca de quatro dias de barco que também enfrentou praga do inseto. Segundo especialistas, a espécie, típica das áreas de várzea, pode ter sido trazida nas embarcações que aportam na cidade, entre as madeiras dos barcos. Com as vazantes dos rios, elas foram se alastrando. "Essa seca atual fez aumentar o número de focos, criou mais espaço para a proliferação dos ninhos", aponta Dissica.
A influência do ciclo das águas é fundamental para a proliferação da praga de formigas. Mesmo com o rio Juruá ainda bem abaixo do nível, a população já está sofrendo com o número anormal das formigas por toda parte. Cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que estiveram recentemente no município para estudar os insetos, identificaram uma média de 25 ninhos por hectare nas poucas áreas limpas da cidade. Com a vazante, o Lago dos Portugueses - uma imensa área com ligação ao rio - tornou-se um campo ideal para a formação de colônias. Na cidade, basta revolver um pouco de terra e elas aparecem.Os moradores contam que as crianças são as principais vítimas da formigas. "Quando começa a chover, elas entram em casa a qualquer hora do dia e da noite", conta a dona de casa Zila Eloi Cavalcanti, 37, residente do bairro São José.
Segundo os moradores, o nome lava-pés foi atribuído exatamente pelo fato de que os pés são o alvo principal das formigas. "Se a gente não tiver cuidado, elas entram até no ouvido das crianças", afirma Zila, que tem sete filhos. No bairro, as casas são suspensas, típicas das áreas de seringais, e as crianças evitam descer. "As famílias pobres sofrem mais porque não têm recursos para comprar veneno", afirma Dissica. Ele informa que a prefeitura está empenhada em conseguir viabilizar o envio para o município de aproximadamente duas toneladas de veneno a fim de realizar uma grande operação de pulverização. A operação foi sugerida pela equipe da Unesp, com apoio de empresas fabricantes de inseticidas. O prefeito está tentando obter junto à Força Aérea Brasileira (FAB) apoio para o transporte do veneno e dos técnicos que trabalharão na ação.