Peixes III
No ano de 2004 tive a oportunidade de viajar por diversas cidades do Amazonas, uma delas foi Anamã, uma pequena e pacata cidadde da Amazônia. Como toda localidade desse porte, a vida corre sem muitas novidades.
As atividades econômicas na sua maioria estão ligadas a prefeitura, algumas ao estado e outras ao mundo rural: madeira, roça e pesca. Outras atividades se resumem a um minguado comércio, padarias e uma boa quantidade de bares.
O único negócio maior e que movimenta algum dinheiro é um frigorífico de beneficiamento de peixes lisos. A quantidade de pescado que gira por lá é enorme, sem contar que emprega muita gente. Dinheiro que corre fora das mãos dos prefeitos que por lá, como em todas as cidades da selva mandam e desmandam no capital de giro.
Faz pouco tempo que esses peixes começaram ter seu valor reconhecido por nós, talvez quando começou a ser exportado para outros países, via Tabatinga. Antes não tinham não se comia esse tipo de peixe por aqui, apesar de ser grande a fartura. Claro, não é que já damos todo o valor para os sabores dos peixes lisos, ainda temos um caminho a ser feito.
Com certeza pessoas vindas de outros lugares estão nos ajudando a fazermos esses passos rumo a outros dabores da Amazônia. A crescente vinda de paraenses para o nosso estado está sendo de fundamental importância nesse quesito. E nesses últimos anos os nossos hermanos peruanos tão amantes desses peixes estão chegando, devagar já somam um bom número por aqui.
Porém, há também o outro lado do moeda. Já fazem muitos anos que a pesca de peixes lisos é feita com arrastão. Esse é um método que utiliza redes grandes e profundas que pega tudo que vem pela frente. Para citar um exemplo disso na última vez que retornava de Codajás, de lá até aqui se fosse colocar todas as redes de pesca juntas que vi, daria uns 15 kilometros.
Esse modo de pescar é predatório, destrói sem piedade. Tudo é feito rápido demais, não deixando tempo para os peixes se reproduzirem. lembro com saudades de alguns anos atrás, que no verão, ao cair da tarde muitas pessoas se encontravam embaixa das boias do nosso cais para pescarem surubim. Várias pessoas garantiam seu pão nosso de cada dia nessa pescaria. Depois que começaram a pescar na entrada do lago, no encontro das águas, e isso lá se vai uns 25 anos o peixe não consegue entrar mais para o lago.
O desafio da pesca predatória com certeza será maior do que a do sabor. Ele exige consciência e vontade de mudança, pede luta por mudanças de pensamento e isso, parece que não estamos com disposição para isso.