Coaripolis

quarta-feira, agosto 11, 2004

Amazônia perde plantas medicinais e conhecimento

Desmatamento afeta recursos e novas populações indígenas desconhecem seu uso
O avanço das motosserras floresta adentro na Amazônia não só derruba árvores. Com as plantas, se perde o conhecimento sobre elas, principalmente as que têm propriedades medicinais. A constatação é de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que compararam dois estudos, um feito em 1984 e outro em 2001, sobre o uso de plantas medicinais, em especial as usadas contra a malária, pela população do sul do Pará.
Segundo Maria das Graças Lins Brandão, da Faculdade de Farmácia da UFMG, uma das autoras dos dois estudos, com o desmatamento o Brasil perde uma riqueza da qual nem se conhece ao certo a dimensão. "Além da riqueza material, nosso trabalho demonstrou que estamos perdendo a própria cultura, ou seja, o conhecimento sobre as plantas medicinais", diz. "Para nós foi incrível e horrível constatar que, em tão curto prazo, a população daquela área amazônica, especialmente São Félix do Xingu (PA), não conhece mais as plantas medicinais da região."
Maria das Graças conta que a intenção dela e dos colegas era coletar mais dados e amostras das plantas que foram ativas contra a malária em 1984, para retomar as pesquisas. "Mas não havia mais nada", diz. "Quando as plantas desaparecem, não se pode mais usá-las, e o conhecimento tradicional cai no esquecimento. As gerações posteriores não aprendem sobre suas propriedades."
Isso pode ser visto na região estudada pelos pesquisadores mineiros. A maior parte das plantas medicinais vendidas lá hoje é importada de outras regiões.
É caso da arnica (Lychnophora sp.), usada como antiinflamatório e cicatrizante, coletada em Goiás. Também de fora, no caso de Minas, chegam a salsaparrilha (Herreria sp.), empregada no tratamento de pele, a douradinha (Waltheria sp.), um diurético, e a congonha (Rudgea viburnoides), diurética e anti-hipertensiva.
Ameaças - O desmatamento e o extrativismo são tão intensos que algumas espécies já correm risco de extinção. O caso mais marcante é o do jaborandi (Pilocarpus sp), do qual se obtém a policarpina, usada contra glaucoma. De certa forma, se repete na Amazônia o que houve em outros Estados. "O progresso desordenado e a destruição das florestas levou ao desaparecimento de muitas plantas medicinais", diz Maria das Graças.
Para agravar a situação, muitas das que restam são pesquisadas em outros países. "É cada vez maior o interesse pelas plantas medicinais nativas do Brasil, especialmente por parte de empresas de outros países, que processam e utilizam", escreveram Maria das Graças e colegas, num artigo publicado na edição de julho da revista Ciência Hoje, da SBPC.
Eles citam o composto alfa-bisabolol e a rutina. O primeiro é um antiinflamatório, obtido do óleo de candeia (Eremanthus erytropappus) e usado em cosméticos. A segunda, das favas da favela (Dimorphandra sp.), fortalece os vasos sanguíneos. As duas são extraídas e purificadas por empresas brasileiras, mas exportadas. "Ambas são mais aproveitadas no exterior", diz. "A rutina está entre os 10 principais farmoquímicos exportados pelo Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (Abiquif)."
Seja como for, a esses dois produtos pelo menos é agregado valor antes da exportação. Não é o caso da maioria das substâncias, exportadas brutas.
Evanildo da Silveira
Fonte: O Estado de S.Paulo
Link: http://www.estado.com.br
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