Coaripolis

segunda-feira, maio 30, 2005

Amazônia em destruição

Depois da enxurrada de notícias sobre a cruzada que está sendo realizada na Amazônia com a finalidade de destruí-la, agora é a vez dos analistas dizerem as coisas. Trago aqui uma dessas análises, a do professor Ozorio Fonseca, que no meu entender é das melhores. Apesar de ser longa vale conferir. Aliás, esse atual momento pelo qual passa nosso planeta verde deve ser entendido da melhor maneira possível por nós amazonidas. E para isso, nada melhor saber de quem entende do assunto.

Amazonidades- Motosserra de ouro -o prêmio
Ozório Fonseca
O Greenpeace, entidade internacional ambientalista, lançou o concurso “Motosserra de Ouro: um prêmio ao exterminador do futuro da Amazônia”, cujo vencedor receberá a “estatueta da madeira ilegal”. A idéia é reconhecer a personalidade brasileira “cujo talento, ação ou inação foram decisivos para os incríveis índices de desmatamento na Amazônia”.
A escolha será feita em duas etapas, sendo uma popular através do “site” www.greenpeace.org.br, e a outra por um júri composto por “jornalistas especializados, pesquisadores, representantes de ONGs e formadores de opinião”.
Entrei no “site” e votei em Lula da Silva, pela sua falta de interesse real com a problemática ambiental amazônica, a não ser quando ela pode promover mais uma viagem ao exterior.
Jamais vou esquecer o presidente, em uma de suas visitas à Manaus, dizendo que só os que não entendem de Amazônia, podem falar em destruição durante seu governo. A cena ficou ainda mais hilária porque ao seu lado, um grupo de políticos, que também não entendem nada de Amazônia, aplaudia, com entusiasmo, aquela declaração vazia.
A prova está aí
Lula da Silva, muito mais preocupado em cuidar de sua imagem internacional (cada dia mais desgastada), deixou a governabilidade do país nas mãos de dois ou três mi-nistros, muito mais interessados na balança comercial e no superávit primário do que na Amazônia.
Digo, sem medo de errar, que os ministros do crescimento econômico não conhecem a Amazônia, nada sabem sobre ela, não se interessam e não a situam no rol de suas preocupações e muito menos de suas prioridades.
E, ao transferir o governo para essa gente, Lula da Silva deixou a frágil ministra Marina Silva, com um enorme problema que ela não tem condições de resolver, por não ter força política e por ter orientado sua vida no sentido do ambientalismo emocional, muito mais ligado aos movimentos ufanistas da sociedade civil, do que às verdades científicas, ou às obrigações de Estado definidas na nossa Carta Magna.
O resultado é que, em dois anos de governo Lula, uma área equivalente a dois Estados de Sergipe, sumiu do mapa florestal amazônico. No primeiro ano (2002-2003) foram 23.750 km2 e no segundo (2003-2004), 26.130 km2.
Lembro que a ministra comandou um verdadeiro carnaval, quando os dados da última avaliação do governo Fernando Henrique (2001-2002), tiveram um inexplicável problema numérico.
Ela mandou reavaliar os números que, na realidade, atingiram 20.695 km2, uma área considera-da escandalosamente grande por Lula e seu “staff”.
Agora o governo tenta explicar, de forma bizarra, o aumento de 14,7% no primeiro período e de 10,0% no seu segundo de mandato.
A ministra e seus assessores - declarações
Segundo a mídia, o desmatamento foi 6% maior que no período passado e até agora não consegui en-tender essa matemática, pois nas minhas contas, 26. 130 km2 (2003-2004) é 10,0211% maior que 23.750 km2 (2002-2003), e não 6%, como divulgado.
Seja qual for a aritmética, o fato é que as tais “medidas estruturantes” anunciadas no início do governo, até agora, não deram em nada.
No dia 16 de março último, a ministra revelou à imprensa, sua expectativa de “uma queda significativa no desmatamento este ano” (www.estado.com.br).
Dois meses depois, com a divulgação dos dados reais, Sua Excelência, na abertura da Semana da Mata Atlântica, em Campos de Jordão, SP, declarou que a “culpa pelo aumento das queimadas na Amazônia é o desempenho da economia brasileira em 2004”.
E, não satisfeita com essa bobagem, acrescentou: “a sociedade também é culpada pela devastação da floresta”.
Para completar as declarações sem nexo das autoridades ambientais do governo Lula, o presidente do Ibama revelou estar “surpreendido com o crescimento de 6% (sic) do desmatamento da Amazônia”. (www.ambientebrasil.com.br-26/05/05).
A meu juízo, a maior surpresa de Marcus Barros deve ter sido constatar a desobediência de sua ordem inútil, exarada em portaria conjunta com o órgão ambiental de Mato Grosso, proibindo queimada de floresta naquele Estado.
Uma enciclopédia de equívocos e erros
Para ser fiel ao modelo Lula da Silva, Marina Silva resolveu discutir a Amazônia no exterior. Ela fará uma visita, aos Estados Unidos onde tentará minimizar os efeitos do desmatamento (sic) fechando um acordo bilateral na área do meio ambiente.
Só para não esquecer, registro o fato de que o Brasil tinha um acordo com o G-7, gerenciado pelo Banco Mundial e destinado à pro-teção das florestas tropicais, que foi destruído, no segundo mandato de FHC, por pessoas ideologicamente ligadas à ministra.
Diz o noticiário que a ministra vai conversar com especialistas americanos na área de meio ambi-ente, reafirmando sua posição de não dar importância aos competentes cientistas ambientais brasileiros.
E, entre os pesquisadores americanos que serão ouvidos, está Thomas Lovejoy (meu amigo pessoal), que implementou, no Inpa, um excelente projeto sobre proteção florestal e que foi dura e injustamente caluniado pelos partidários da ministra.
O PPG (Programa de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) tinha elementos fundamentais para diminuir o desmatamento e abrir caminhos para a construção de um modelo de desenvolvimento fundado na sustentabilidade.
Ozorio Fonseca é professor da UEA e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA