Coaripolis

terça-feira, maio 31, 2005

Tem que doer no bolso
Lorenzo Aldé, Carolina Elia, Eduardo Pegurier e Ana Antunes
Vender a Amazônia para os gringos até que não é mau negócio. Se for para preservar melhor do que a gente (o que não é difícil), por que não? Ronaldo Serôa da Motta, um dos pais da economia ambiental no Brasil, já foi idealista, nacionalista, mas agora está convicto de que o caminho é ser prático: vivemos numa sociedade mercantilizada, então o único jeito de preservar o meio ambiente é dar valor econômico aos recursos naturais. Ou seja, para usar seu termo técnico preferido, o segredo é mexer no direito de propriedade. Preserva-se 70% da Amazônia em parques nacionais e os outros 30% concede-se para a exploração privada, mas bem regulada. Isso permitiria até desmatar mais um pouco a maior floresta tropical do mundo, que afinal pode render bons dividendos.
O discurso pode soar, literalmente, frio e calculista. Mas os ambientalistas não deveriam se esquivar das diretas deste economista do IPEA. A mesma lógica que defende a valoração da Amazônia condena a hidrelétrica de Barra Grande. Segundo ele, a usina nascida de fraude ambiental, mesmo estando pronta para entrar em operação, poderia ser abandonada e se tornar um símbolo de aplicação da lei. No fim das contas, o que Serôa faz é oferecer uma carapuça para cada um de nós: as leis de mercado só existem porque há consumo, e quem responde por ele é você. Quer salvar a natureza? Tudo bem. Quanto está disposto a pagar por isso?
Leia+